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Bem-Estar

Violência Obstétrica: o que é e como enfrentá-la

O debate sobre a violência obstétrica tem crescido nos últimos anos. Mas, afinal, o que é isso? Quais são os dados da violência obstétrica no Brasil? Como enfrentá-la? Venha conferir tudo neste artigo.

O parto é uma experiência intensa, tanto física quanto emocionalmente. A mulher que chega ao serviço de saúde traz consigo medos, inseguranças, angústias, e idealizações quanto ao nascimento do bebê. Sendo assim, o que ela mais precisa é de profissionais que proporcionem um ambiente seguro, o que muitas vezes não acontece. A violência obstétrica é uma realidade no Brasil, e precisa ser amplamente discutida e combatida. Saiba mais sobre o assunto neste artigo.

Violência obstétrica: definição e exemplos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as principais formas de violência obstétrica são as seguintes:

  • Intervenções rotineiras e desnecessárias e medicalização;
  • Abuso verbal, humilhação ou agressão física;
  • Falta de material e instalações inadequadas;
  • Práticas realizadas por residentes e profissionais sem a autorização da mulher após o fornecimento de informações completas e verdadeiras;
  • Discriminação por motivos culturais, econômicos, religiosos e étnicos.

Apesar de existir uma definição, é importante destacar que cada mulher pode ter uma experiência diferente quanto à violência obstétrica. Ou seja, com base em informações suficientes, as vítimas sabem exatamente quando vivenciaram ou não situações em que se sentiram violentadas.

Seguem alguns exemplos comuns de violência obstétrica:

  • Xingamentos, feitos em tom de “brincadeira”;
  • Impedimento da entrada de um acompanhante;
  • Falta de analgesia mediante o sofrimento extremo da mulher;
  • Cesariana desnecessária e sem consentimento;
  • Manobra de Kristeller: subir na barriga da mãe para “forçar o parto”, prática não recomendada pela OMS;
  • Episiotomia sem indicação: incisão na região perineal. Atualmente, o índice de episiotomia é muito superior ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Essas são apenas algumas das intervenções que podem se tornar violentas, principalmente se forem repentinas ou não explicadas corretamente à mulher.

Dados da violência obstétrica no Brasil

Quando se trata de violência obstétrica no Brasil, os números são preocupantes.

Pesquisas nacionais, como a da Fundação Perseu Abramo, indicam que uma em cada quatro mulheres já experimentou algum tipo de violência obstétrica durante a assistência ao parto, e metade das que abortam também.

Das formas de violência obstétrica citadas, 10% sentiram dor durante os exames vaginais; 10% foram negadas a receber alívio da dor; 9% foram tratadas com gritos; 9% ouviram insultos ou foram humilhadas; 7% não foram informadas quanto aos procedimentos realizados; 23% sofreram violência verbal preconceituosa.

Outra grande pesquisa nacional, a Nascer no Brasil (Fiocruz), realizada entre 2011 e 2012 com 24 mil mulheres, relatou que 45% das gestantes que tiveram seus filhos no SUS sofreram maus-tratos. Já na rede privada, o índice foi de 30%.

Junte-se a isso a impunidade quanto aos casos denunciados e a falta de leis mais rígidas (vide o caso Shantal). É preciso haver uma conscientização dos órgãos de controle para que as mulheres sejam respeitadas neste momento tão único que é o parto.

Caso da influencer Shantal Verdelho

Em setembro de 2021, a influencer Shantal Verdelho foi vítima de violência obstétrica, praticada pelo seu obstetra Renato Kalil.

Durante o trabalho de parto, dada a sua recusa em realizar uma episiotomia – corte entre o ânus e a vagina para facilitar a passagem do bebê – pois não havia indícios de que era preciso fazê-lo, o médico realizou a manobra de Kristeller, na qual é aplicada uma pressão na parte superior da barriga da mulher.

Além disso, circularam nas redes sociais vídeos da influencer dando à luz enquanto o médico usava expressões como “faz força, po**a”, “o útero dela é ruim”, entre outras expressões altamente agressivas. Inclusive, esses vídeos repercutiram nacionalmente, causando comoção nas redes sociais.

A influenciadora, porém, acabou demorando para fazer a denúncia e realizar o exame de corpo de delito, pois apenas percebeu que tinha sido vítima de violência obstétrica quando viu o vídeo do parto.

Este caso ilustra um problema muito comum: muitas vezes, devido à confiança que as mulheres têm nos profissionais e à vulnerabilidade física e emocional do momento, elas não conseguem detectar se sofreram violência ou não. Acabam aceitando os procedimentos sem questionar, e sofrendo em silêncio sem saber que estão sendo violentadas. Soma-se a isso a banalização da violência obstétrica, naturalizada em comportamentos considerados como “brincadeiras” pelos profissionais de saúde.

O Ministério Público de São Paulo denunciou o médico Renato Kalil pelo caso Shantal, em outubro de 2022. Inclusive, houve diversas outras denúncias contra ele, após o caso da influenciadora repercutir nacionalmente.

Shantal e sua filha Domenica

Na foto, a influenciadora Shantal e a filha Domênica, ainda bebê Shantal Verdelho / Reprodução @shantal

Como combater a violência obstétrica

Primeiramente, é importante acolher as mulheres que passaram por violência obstétrica, e encorajá-las a denunciar aos órgãos responsáveis. Segundo o Ministério da Saúde, as denúncias de violência obstétrica podem ser feitas no próprio hospital onde ocorreu o parto, na Secretaria Municipal ou Estadual, no Conselho de Classe (CRM e/ou COREN) ou pelos telefones 180 ou 136.

Porém, não basta punir os agressores. É preciso promover ações preventivas e reparar as situações existentes em busca de uma assistência obstétrica mais respeitosa, bem como a partilha de responsabilidades entre os envolvidos no processo do parto.

Outras estratégias para prevenir e combater a violência obstétrica incluem formação acadêmica adequada, conscientização das mulheres, mobilização social e desenvolvimento de leis e políticas públicas que garantam uma assistência obstétrica livre de violência.

 

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